A crise política no Peru ganhou novos contornos nesta quando milhares de manifestantes — em sua maioria jovens da chamada Geração Z — tomaram as ruas de Lima para protestar contra o recém-empossado presidente interino José Jeri. O ato, que começou de forma pacífica, terminou em confrontos com a polícia, que utilizou gás lacrimogêneo e balas de borracha para conter os grupos que tentavam avançar em direção ao Congresso Nacional.
O início da revolta

O movimento foi articulado pelas redes sociais, sem liderança formal, e recebeu apoio de sindicatos, grupos estudantis e organizações civis. Os manifestantes denunciam corrupção sistêmica, instabilidade política e retrocessos democráticos no país — problemas que se intensificaram desde a queda de Dina Boluarte, destituída do cargo sob acusações de abuso de poder e violação de direitos humanos durante os protestos de 2023 e 2024.
Segundo informações, a polícia bloqueou as principais vias de acesso ao centro histórico de Lima, onde se concentram o Congresso e o Palácio de Governo. Em vídeos que circularam nas redes, é possível ver manifestantes com bandeiras do Peru e cartazes pedindo “nova Constituição e novas eleições”, enquanto a multidão entoava palavras de ordem contra “a velha política”.
O novo presidente sob suspeita
O atual chefe de Estado, José Jeri, assumiu o poder após a destituição de Boluarte aprovada pelo Congresso no início de outubro. Jeri, até então presidente do Legislativo, é um político independente com histórico militar, mas enfrenta forte resistência popular desde sua posse.

Um dos motivos é a denúncia de agressão sexual registrada em janeiro de 2025, feita por uma mulher que o acusou de estupro durante uma festa em dezembro de 2024. O caso foi arquivado em agosto pelo Ministério Público, que alegou falta de provas, mas o episódio reacendeu o descontentamento popular, principalmente entre movimentos feministas e estudantis.
Jeri nega qualquer envolvimento e afirma que o país vive “um momento de transição que exige união e respeito institucional”. Apesar disso, as principais centrais sindicais do Peru anunciaram uma greve nacional caso o governo não convoque novas eleições até o fim do ano.
Instabilidade crônica
O Peru enfrenta sua sexta crise presidencial em menos de uma década, desde a queda de Pedro Pablo Kuczynski (2018), seguida pelos turbulentos mandatos de Martín Vizcarra, Manuel Merino, Pedro Castillo e Dina Boluarte.
Analistas da BBC Mundo e da Deutsche Welle apontam que o país vive um “colapso institucional prolongado”, no qual o Legislativo e o Executivo competem pelo poder, e a desconfiança pública atinge níveis recordes.
“A geração Z peruana cresceu sob governos instáveis e escândalos de corrupção. Eles não têm mais medo das ruas, e o que vemos agora é uma rejeição generalizada a todo o sistema político”, afirmou a socióloga Carolina Huamán, da Universidade Nacional Mayor de San Marcos, à DW Español.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) divulgaram notas pedindo contenção e respeito aos direitos humanos, após denúncias de violência policial e detenções arbitrárias. Segundo a ONG Amnistía Internacional, pelo menos 37 pessoas foram presas e 12 ficaram feridas nos confrontos de quarta-feira.




























