Cavalo de Troia Digital

O influenciador Felca, com seu conteúdo irreverente e crítico, alcançou milhões de visualizações ao expor a alarmante questão da adultização de crianças e adolescentes nas redes sociais. A denúncia, que ecoou a justa indignação de pais e educadores preocupados com a exposição precoce e a sexualização de menores no ambiente digital, rapidamente se tornou um fenômeno. No entanto, o que parecia ser uma vitória da sociedade civil contra uma prática nociva, logo se revelou um terreno fértil para uma agenda muito maior: a regulamentação das redes sociais.

O vídeo do influenciador impulsionou a discussão e a pauta do Projeto de Lei (PL) 2.628 de 2022, conhecido como ECA Digital, na Câmara dos Deputados. Parlamentares favoráveis ao texto defendem a necessidade de regulamentar as plataformas digitais para proteger menores de conteúdos impróprios e garantir mecanismos mais eficazes de verificação de idade, além de responsabilizar as big techs. A repercussão do caso Felca trouxe à tona a urgência desse debate, com defensores da regulamentação argumentando que todos os setores no Brasil são regulamentados e as redes sociais não deveriam ser exceção, enquanto a oposição levanta preocupações sobre liberdade de expressão e censura.

É crucial observar como a narrativa em torno do vídeo de Felca foi habilmente instrumentalizada. A pauta inicial, que era a proteção de crianças contra a adultização e a responsabilização de plataformas e criadores de conteúdo que promovem essa prática, metamorfoseou-se em um debate sobre a necessidade urgente de controlar o que é dito e veiculado nas plataformas digitais. O clamor popular por justiça contra a adultização foi, de certa forma, sequestrado e transformado em um argumento para justificar uma intervenção estatal mais profunda na internet.

O termo “Cavalo de Troia” surge aqui com uma precisão assustadora. Assim como na história, onde um presente aparentemente inofensivo escondia uma ameaça, o vídeo de Felca, com sua pauta legítima e moralmente inquestionável, serviu de porta de entrada para um projeto de controle que há muito tempo paira sobre o ambiente digital. Parlamentares e setores da mídia, que antes pareciam indiferentes às denúncias sobre a adultização ou a exploração infantil em outras esferas, subitamente se viram unidos na defesa de uma “regulamentação” que, para muitos, soa mais como censura.

Não sejamos ingênuos. A preocupação genuína com a proteção de crianças e adolescentes, que é uma pauta importantíssima e inegável, está sendo instrumentalizada. O que o caso Felca escancarou foi a fragilidade de um sistema que permite a adultização sem a devida fiscalização. No entanto, a resposta que se busca dar não é a fiscalização dessas práticas específicas, mas sim a restrição da liberdade de expressão e a centralização do poder de informar. A verdadeira intenção por trás dessa “regulamentação” é, para muitos, a de calar vozes dissonantes e controlar a narrativa, especialmente em um ano pré-eleitoral como 2026, onde as redes sociais desempenham um papel crucial na formação da opinião pública.

A CORTINA DE FUMAÇA DA “PROTEÇÃO INFANTIL”

Se a preocupação com a proteção de crianças e adolescentes nas redes sociais fosse genuína e prioritária, por que casos graves de exploração e abuso, denunciados há anos, foram sistematicamente ignorados ou descredibilizados? A narrativa que tenta justificar a regulamentação da internet sob o pretexto de resguardar os menores esbarra em uma realidade incômoda: a seletividade com que certas denúncias são tratadas e a forma como vozes incômodas são silenciadas.

O caso da Ilha de Marajó, no Pará, é um exemplo gritante dessa hipocrisia. As denúncias de exploração sexual infantil na região, levantadas com veemência pela ex-ministra Damares Alves, foram recebidas com ceticismo, ataques e tentativas de desqualificação por parte de setores da mídia e da política. Enquanto Damares alertava para a gravidade da situação, enfrentava uma verdadeira campanha de desinformação e ridicularização. A mesma “preocupação” que agora impulsiona a regulamentação das redes, usando a pauta da adultização, não se manifestou com a mesma intensidade quando se tratava de investigar e punir crimes hediondos que, de fato, vitimizam crianças em um dos locais mais vulneráveis do Brasil. Pelo contrário, a tentativa de abafar o caso Marajó e descredibilizar as denúncias de Damares revela que a proteção infantil, para alguns, é apenas um discurso conveniente, e não uma prioridade inegociável.

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Essa seletividade se estende ao tratamento dado a jornalistas e comunicadores que ousam investigar e expor temas sensíveis. Figuras como Antônia Fontenelle que ao denunciar práticas de exploração infantil e sexualização de menores, foi processada e obrigada a remover conteúdo, além de pagar multas. A “regulamentação” das redes, nesse contexto, surge como uma ferramenta legal para alcançar o mesmo objetivo: silenciar vozes incômodas e controlar a narrativa.

É evidente que a pauta da “proteção infantil” está sendo usada como uma cortina de fumaça. Por trás dela, esconde-se o desejo de controlar a informação, de suprimir a liberdade de expressão e de garantir que apenas as narrativas convenientes ao poder estabelecido prevaleçam. A verdadeira ameaça às crianças não está nas redes sociais em si, mas na omissão e na conivência com crimes reais, e na instrumentalização de causas nobres para fins políticos e de controle.

QUEM PODE CRITICAR E QUEM DEVE SER CALADO?

A análise da suposta “preocupação” com a proteção infantil nas redes sociais, frequentemente utilizada como pretexto para regulamentações, revela contornos ainda mais claros quando observamos a seletividade dos julgamentos e a hipocrisia de certos setores. O caso da cantora Aymeê Rocha e sua música Evangelho de Fariseus é um exemplo paradigmático dessa dissonância.

Aymeê Rocha, com sua canção que critica abertamente a hipocrisia e a mercantilização da fé em algumas igrejas evangélicas, foi alvo de severas críticas e condenações por parte de pastores e líderes religiosos. A mensagem da música, que expõe a busca por poder e riqueza em detrimento dos princípios cristãos, foi interpretada por muitos como um ataque ao sistema religioso. Além disso, a própria artista denunciou casos de exploração infantil na Ilha de Marajó, trazendo à tona omissões das autoridades e gerando ainda mais resistência por parte de setores que preferiam manter silêncio sobre o tema.

No entanto, esses mesmos líderes que criticaram Aymeê foram os primeiros a aplaudir o vídeo de Felca, que criticava a adultização de crianças — uma pauta legítima e urgente — e denunciava práticas duvidosas no ambiente digital. Essa contradição evidencia a verdadeira intenção por trás de muitas “indignações”: o problema não é a crítica em si, mas quem está sendo criticado.

A crítica é aceita e até incentivada quando atinge “inimigos” externos, como a adultização de crianças ou figuras que não se alinham a determinados interesses. Mas torna-se inaceitável quando aponta falhas internas ou expõe a hipocrisia daqueles que se julgam moralmente superiores. Ao expor os “fariseus” de seu próprio meio e denunciar a realidade de Marajó, Aymeê tocou em uma ferida que muitos preferem manter oculta.

É nesse contexto que o “Cavalo de Troia” da regulamentação das redes sociais se revela. Sob o pretexto de proteger o público — especialmente as crianças — e combater a desinformação, busca-se, na verdade, controlar narrativas e silenciar vozes que desafiam o status quo. A proteção seletiva e a indignação conveniente tornam-se ferramentas poderosas de manipulação da opinião pública, justificando medidas que restringem a liberdade de expressão.

O PADRÃO DE SILENCIAMENTO

A verdade sobre redes sombrias de corrupção e exploração tem sido sistematicamente abafada. O caso de Jeffrey Epstein é um dos mais conhecidos, além do caso Marajó, mas inúmeros outros denunciantes desapareceram misteriosamente. No Brasil, políticos, jornalistas e figuras públicas que denunciam exploração infantil ou a cultura da morte enfrentam ridicularização, ataques e até ameaças de cassação, como ocorreu com Damares Alves, ao expor o escândalo de Marajó.

Daniel Mastral, ex-membro de grupos esotéricos, denunciava há anos a atuação de seitas satanistas infiltradas em posições de poder. Em entrevistas e livros, relatava sacrifícios humanos e rituais macabros, afirmando que crianças eram utilizadas como oferendas em troca de influência, dinheiro e outros favores. Em 2024, Mastral foi encontrado morto, em um desfecho trágico que segue o padrão de silenciamento. Suas denúncias coincidiam com informações sobre tráfico de crianças e uso de substâncias ilícitas por certos grupos, levantando suspeitas de queima de arquivo.

O caso do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo, reforça ainda mais esse padrão. Em 2 de junho de 2002, Lopes desapareceu enquanto investigava prostituição infantil e tráfico de drogas em um baile funk na Vila Cruzeiro, Rio de Janeiro. Equipado com microcâmeras, buscava expor atrocidades do Comando Vermelho (CV), uma das maiores facções criminosas do país. Capturado, torturado e assassinado por ordem de Elias Maluco, sua morte evidenciou a crueldade e a fragilidade do sistema de segurança pública. Apesar da comoção nacional, muitos envolvidos obtiveram benefícios legais questionáveis ou desapareceram diante da Justiça, revelando impunidade e corrupção sistêmica que perpetuam o poder dessas organizações criminosas.

A memória de Tim Lopes, Daniel Mastral que perderam a vida por expor verdades incômodas, serve como alerta sombrio para o perigo de um ambiente onde a crítica é aceita apenas quando favorece interesses de poder.

QUEM REALMENTE ESTÁ POR TRÁS DO VÍDEO DE FELCA?

Mas, afinal, quem são os verdadeiros responsáveis pelo vídeo do Felca? Segundo apurações e relatos internos, o vídeo não foi uma ação isolada ou espontânea: há indícios de que sua assessora, Adriana — que atualmente se apresenta como Thalya — teria sido a mente por trás de grande parte das polêmicas associadas ao conteúdo. Felca mesmo, em entrevistas, afirmou que muitas das decisões e estratégias partiam dela, recomendando inclusive que outras pessoas “copiem” suas ações polêmicas.

Fontes internas confirmam que o pedido de prisão preventiva contra Hytalo Santos já havia sido protocolado antes da divulgação do vídeo. O caso já tramitava no Ministério Público e estava na fase de investigação, de forma que Felca não teria criado eventos que não fossem inevitáveis. No entanto, a figura de Thalya se destaca: ela possui histórico de publicações controversas, incluindo tweets antigos em que minimizava crimes de exploração infantil, posteriormente apagados, mas validados por ferramentas de inteligência artificial.

O vínculo de Thalya com a grande mídia e a produção artística também levanta questões. Trabalhando com clipes de artistas e utilizando referências de ocultismo em suas redes sociais, Thalya exibe símbolos e arquétipos que remetem ao hermetismo e à sociedades duvidosas, como o uso do olho da providência, pentagramas e tronos vermelhos com alusões a figuras com arquétipos bíblicos como Jezebel, em postagens com conotações satânicas.

Esses elementos levantam questionamentos sobre o verdadeiro papel de Thalya na produção do vídeo do Felca e na articulação de contratos e relações internacionais. Além disso, o canal do influenciador na Twitch, chamado de Seita, voltado para público infanto-juvenil, torna essas questões ainda mais sensíveis por conta de alguns conteúdos postados que estão gradualmente sendo apagados após a comunidade perceber tais ligações.

Por fim, aliados e críticos relatam práticas de manipulação e perseguição digital, envolvendo seguidores, prints de interações antigas e conexões com figuras influentes, como Valter Moreira Salles, que teria relações com elites internacionais. Essa teia complexa reforça a necessidade de investigação, transparência e responsabilização, especialmente quando vidas e inocência infantil estão em jogo.

A reflexão é clara: não se trata apenas de um vídeo ou de uma polêmica pontual, mas de compreender quem exerce poder, quem manipula narrativas e até onde a hipocrisia e o controle seletivo são usados para moldar a opinião pública. A sociedade precisa estar atenta e vigilante.

O país precisa despertar para essa realidade. A liberdade de expressão não pode ser negociada sob o pretexto de proteção seletiva. A verdadeira defesa da sociedade passa pela transparência, pelo debate aberto e pela coragem de questionar, sem medo de retaliação, aqueles que, sob a capa da moralidade, buscam apenas perpetuar poder e controle. Nossa história não será apagada, e nossa liberdade não será negociada.

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