A Open Society Foundations, rede internacional de filantropia ligada ao bilionário George Soros, destinou US$ 150 mil — o equivalente a cerca de R$ 808,5 mil — para a produção e distribuição do documentário Apocalipse nos Trópicos, lançado em 2025 e disponível na Netflix. O filme investiga o papel político dos evangélicos no Brasil, afirmando que o crescimento desse segmento religioso teve influência decisiva na eleição de Jair Bolsonaro e nos eventos ligados aos protestos do dia 8 de janeiro.
O investimento da Open Society foi canalizado por meio do Instituto Peri — braço sem fins lucrativos vinculado à produtora Peri Productions, criado no Rio de Janeiro em 2024. O objetivo declarado é engajar “histórias que movem grandes públicos”, impactando narrativas culturais e valores sociais. Segundo críticos do documentário, porém, a obra reduz fiéis a caricaturas, associa fé a estratégias políticas e reforça estigmas em relação ao segmento evangélico.
Quem é George Soros e qual é sua influência?
George Soros é um investidor nascido na Hungria, radicado nos Estados Unidos, que ganhou destaque global por unir atuação financeira, filantrópica e política. Ele fundou a Open Society Foundations em 1993, após o colapso da União Soviética, com o propósito de promover valores ocidentais, democracia e direitos civis em sociedades emergentes. Ao longo dos anos, Soros tornou-se figura controversa, sendo visto como ator influente por seus financiamentos a organizações de esquerda, ONGs de direitos humanos, movimento feminista e de imigração, entre outros.
Críticos apontam Soros como mentor de transformações políticas globais. Em muitos casos, sua fundação é acusada de “interferência” em políticas nacionais, “desestabilização” de governos e manipulação ideológica. Ao mesmo tempo, a Open Society mantém presença ativa em mais de 120 países, focando em democracia, educação, liberdade de expressão e combate à discriminação.
O livro A Agenda Soros, cujo mesmo trata Soros como arquiteto de mudanças políticas ocultas, procura decifrar a estratégia de influência do magnata. Publicado em diferentes idiomas, esse tipo de obra analisa as redes de financiamento, as táticas de comunicação e o embate simbólico entre soberania nacional e “governança global”. Embora inconclusivo ou parcial em muitos casos, A Agenda Soros é frequentemente citado como uma espécie de “guia crítico” contra o que tratam como agenda oculta da esquerda internacional.
Particularmente no Brasil, obras e discursos associados à “Agenda Soros” questionam investimentos estrangeiros em cultura, mídia e ONGs, sugerindo que há diretrizes deliberadas para moldar a opinião pública e corroer valores tradicionais. O financiamento ao documentário Apocalipse nos Trópicos é apontado por críticos justamente como exemplo prático de tal ação.
O documentário
Apocalipse nos Trópicos adota uma abordagem polêmica: sustenta que o crescimento político dos evangélicos no Brasil foi mobilizado como base de sustentação para Jair Bolsonaro, e que esse movimento teria sido instrumentalizado para influenciar a opinião pública e as manifestações políticas de 8 de janeiro de 2023. A diretora Petra Costa posiciona pastores como Silas Malafaia como agentes ativos nessa estratégia, e mostra discursos religiosos como peças simbólicas de manipulação.
Controvérsias centram-se nas escolhas narrativas: os críticos argumentam que o documentário estereotipa evangélicos como uma massa manipulável e que apresenta uma leitura reducionista da fé, ignorando pluralidade religiosa e político-cultural no país. Ao “demonizar” grupos religiosos, acusam, a obra reforça polarizações e alimenta sentimentalismos ideológicos.
Para os defensores do documentário, porém, trata-se de uma denúncia — o filme serve como crítica à política de instrumentalização da fé e ao uso simbólico da religião como vetor de poder. A discussão pública que se segue evidencia a tensão entre liberdade de expressão artística, responsabilidade política e sensibilidade religiosa no Brasil contemporâneo.
Conexões e implicações
O Instituto Peri, responsável por captar e gerir os recursos para Apocalipse nos Trópicos, representa um elo entre cultura, política e ativismo. Sob liderança de Alessandra Orofino — com histórico em ativismo digital e envolvimento em redes de comunicação progressistas — o instituto atua justamente no ponto de interseção entre narrativa cultural e engajamento político.
A doação da Open Society para esse projeto reforça uma tese central de críticos: que a filantropia moderna, longe de ser apenas caridade, pode operar como ferramenta estratégica de influência ideológica. Se o cinema é um meio simbólico poderoso, o financiamento externo atinge não só o conteúdo, mas quem define que histórias serão contadas e como.
No Brasil polarizado, o episódio gera repercussão intensa. De um lado, há quem enxergue censura moral no escândalo do financiamento; de outro, defensores do documentário apontam que o debate sobre religião, política e mídia precisar ser provocado — ainda que desconfortável.




























