Nos últimos dias, o Brasil voltou a vivenciar um episódio trágico de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol. No estado de São Paulo, a Polícia Científica confirmou que o álcool industrial foi adicionado às bebidas e não surgiu de destilação natural, causando até o momento 18 casos de intoxicação e três mortes, incluindo duas vítimas na capital paulista e uma em São Bernardo do Campo. A substância, altamente tóxica, pode levar à cegueira, insuficiência respiratória e óbito — efeitos conhecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

A investigação aponta que o metanol pode ter sido inserido durante a falsificação das bebidas, possivelmente através de etanol adquirido em postos de combustíveis e adulterado. Em resposta, o governo paulista, sob supervisão da Polícia Civil e da Vigilância Sanitária, realizou operações que resultaram em 41 prisões e fechamento de quatro fábricas clandestinas, além de interdições de estabelecimentos suspeitos.
Ao analisar o contexto, é impossível dissociar o fenômeno das estruturas históricas de criminalidade organizada e da forma como o Estado brasileiro lida com a fiscalização e a segurança pública.
A lógica do crime organizado no Brasil tem raízes profundas. Em episódios anteriores, como em 2006, quando o governo tentou isolar líderes do crime, houve uma escalada de violência urbana: ônibus incendiados, delegacias atacadas e mais de 500 mortes, segundo dados de segurança pública da época. Observa-se que a ação criminosa funciona como instrumento de intimidação do Estado e da sociedade — um recado claro: qualquer tentativa de controle ou fiscalização pode resultar em retaliação letal. O fenômeno atual das mortes por metanol parece seguir o mesmo padrão de demonstração de poder, adaptado aos tempos modernos.
No âmbito da fiscalização, a extinção do CICOG (Comitê de Controle de Bebidas e Produtos Alcoólicos) em 2016 marcou um ponto crítico. O órgão tinha como função monitorar a produção e distribuição de bebidas alcoólicas, mas foi desligado sob o argumento de custo elevado — cerca de 1 bilhão de reais por ano — o mesmo valor estimado para manter o Supremo Tribunal Federal (STF) e suas despesas administrativas, incluindo salários, viagens e benefícios. A ausência de um sistema robusto de fiscalização tornou o país vulnerável a esquemas de adulteração de bebidas, favorecendo a ação de quadrilhas que exploram falhas na segurança pública e no controle estatal.
O cenário se complica ainda mais quando se observa a resistência política em classificar certas facções criminosas como organizações terroristas, como tentativas norte-americanas de incluir grupos brasileiros em listas de terroristas internacionais. A argumentação de setores da esquerda brasileira, que negam tal classificação, colide com a realidade documentada: assassinatos intencionais, intimidação de autoridades e propagação de medo em massa são características típicas do terrorismo urbano moderno. A ausência de uma posição clara por parte do governo brasileiro contribui para a perpetuação da impunidade e amplifica o risco à população.
Adicionalmente, a reabertura da investigação norte-americana sobre o caso Odebrecht demonstra que o crime organizado no Brasil não opera isoladamente; há vínculos complexos com instâncias do poder político e econômico. O uso de rotas legais, fronteiras portuárias e estruturas administrativas para facilitar a circulação de produtos ilícitos — como bebidas adulteradas com metanol — indica uma operação de grande escala, que exige coordenação e proteção dentro do sistema. Relatórios recentes da Interpol e do Departamento de Justiça dos EUA destacam que esquemas dessa magnitude não podem ocorrer sem conivência ou falhas sistêmicas na fiscalização e controle de ministros, desembargadores ou agentes públicos.
Recentemente, operações da Polícia Federal, como a Operação Tank, revelaram a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis, com facções criminosas utilizando postos de gasolina para lavagem de dinheiro e adulteração de combustíveis. Durante essas ações, foram apreendidos caminhões e tanques de metanol, substância altamente tóxica, que, segundo investigações, podem ter sido desviados para a falsificação de bebidas alcoólicas.

A Operação Tank, deflagrada em agosto de 2025, identificou uma das maiores redes de lavagem de dinheiro já registradas no estado do Paraná, movimentando mais de R$ 23 bilhões por meio de uma rede composta por centenas de empresas, incluindo postos de combustíveis, distribuidoras e instituições de pagamento autorizadas pelo Banco Central. A ação resultou no cumprimento de 14 mandados de prisão e 42 de busca e apreensão nos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.

A investigação apontou que o grupo criminoso utilizava práticas como adulteração de gasolina e a chamada “bomba baixa”, em que o volume abastecido é inferior ao indicado, além de lavagem de dinheiro por meio de transações financeiras fraudulentas. A apreensão de metanol durante as operações levanta a hipótese de que a substância tenha sido desviada para a falsificação de bebidas alcoólicas, prática que resultou em casos de intoxicação e mortes em diversas regiões do país.
Especialistas alertam que a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis representa uma ameaça significativa à segurança pública e à economia, exigindo ações coordenadas entre as autoridades para desmantelar essas redes criminosas e evitar novas tragédias.
A morte de inocentes pelo consumo de metanol não é um acidente isolado, mas uma consequência previsível da negligência estatal, da desestruturação de órgãos fiscalizadores e da complexidade do crime organizado nacional. Enquanto órgãos de mídia e autoridades tentam controlar a narrativa, destacando casos pontuais, permanece invisível o quadro mais amplo: a conexão entre impunidade, violência e omissão institucional, que transforma o consumo de bebidas adulteradas em instrumento de poder e intimidação.
Essa análise aponta para a urgência de reativar mecanismos de fiscalização e controle, como o CICOG, e de reconhecer oficialmente a gravidade do crime organizado nacional, considerando seus impactos sociais, políticos e econômicos. Sem medidas efetivas, episódios como os recentes não apenas continuarão a ocorrer, como servirão de demonstração de força das facções criminosas, mantendo a população refém de um ciclo de medo e impunidade.




























