Em nova escalada diplomática, o subsecretário de Diplomacia Pública do Departamento de Estado dos EUA, Darren Beattie, intensificou nesta segunda-feira (8) a retórica contra autoridades brasileiras ao mencionar explicitamente o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Em publicação na rede X, o diplomata afirmou que o governo norte-americano “continuará a tomar as medidas cabíveis” contra Moraes — uma declaração que amplia o tom de confronto já assumido por Washington nas últimas semanas.

A declaração de Beattie sucede comentários igualmente ríspidos do presidente Donald Trump, que em entrevista no Salão Oval disse estar “muito irritado” com o que chamou de “mudança radical para a esquerda” do governo brasileiro e não descartou a possibilidade de restringir vistos de autoridades brasileiras que venham a participar da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no final do mês. O presidente tem usado esse discurso para justificar uma série de medidas econômicas e sancionatórias contra Brasília.
O aperto prático traduz-se em medidas concretas: desde julho, a administração Trump impôs tarifas punitivas que chegaram a 50% sobre uma larga gama de produtos de origem brasileira — uma sanção comercial apresentada como retaliação à condução do processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, conduzido sob relatoria de Alexandre de Moraes. A decisão afetou exportações brasileiras e aprofundou a crise diplomática entre os países.
Paralelamente às tarifas, o governo norte-americano adotou medidas direcionadas a indivíduos. Em julho, o Departamento do Tesouro americano anunciou sanções que se baseiam na autoridade prevista pelo regime Global Magnitsky, e o Departamento de Estado revogou vistos de Moraes e de membros próximos de sua família — medidas justificadas por Washington com acusações de abuso de autoridade, perseguição política e violações de direitos humanos, além de alegações de que atos judiciais teriam resultado em censura a cidadãos ou empresas norte-americanas. Essas medidas incluem congelamento de ativos e proibições comerciais nos Estados Unidos.
A aplicação das sanções já gerou efeitos secundários práticos: o Tesouro dos EUA entrou em contato com grandes bancos brasileiros para averiguar conformidade com as medidas e instruções relacionadas às sanções, sinalizando que as medidas de Washington vão além de retórica e podem impactar fluxos financeiros e operações de instituições brasileiras no exterior.
Do lado brasileiro, a reação oficial tem sido de reprovação. O governo de Brasília tem defendido a independência do Judiciário e criticado o que considera ingerência externa nos assuntos internos do país, enquanto analistas destacam o risco de prejuízos econômicos imediatos e de deterioração das relações bilaterais se a escalada continuar. Em entrevistas e comunicados, autoridades brasileiras, inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, têm rechaçado a tentativa de intimidação e afirmado que o Judiciário atuará conforme a Constituição e o rito legal independentemente da pressão externa.
O quadro que se forma combina instrumentos econômicos (tarifas), diplomáticos (revogação e restrição de vistos) e legais (sanções sob o regime Magnitsky). Para observadores, as próximas semanas serão decisivas: estarão em jogo a participação de autoridades brasileiras na Assembleia Geral da ONU, a possibilidade de novas sanções setor por setor e a resposta de Brasília — que pode variar entre retaliações comerciais, apelos a órgãos multilaterais e ações jurídicas. A disputa também levanta questões mais amplas sobre soberania, extraterritorialidade de medidas norte-americanas e os limites da pressão econômica como instrumento de política externa.
Em suma: a tensão entre Washington e Brasília evoluiu de palavras para instrumentos concretos de coerção, e tanto o impacto imediato sobre setores exportadores quanto as consequências políticas internas no Brasil deverão pautar o calendário diplomático e econômico dos próximos meses.