A sessão da CPMI do INSS foi marcada por um dos momentos mais tensos — e simbólicos — desde o início dos trabalhos.
Durante o depoimento de Igor Dias Delecrode, parlamentares transformaram um questionamento aparentemente trivial sobre o sapato que ele usava em um confronto direto sobre luxos, contradições e suspeitas de desvios envolvendo recursos destinados a cidadãos em situação de vulnerabilidade.
Logo no início da oitiva, o relator insistiu para que Delecrode confirmasse se estava usando um sapato de grife e qual seria a marca do acessório. Mesmo diante das perguntas repetidas, o depoente se amparou no direito ao silêncio garantido por habeas corpus, afirmando que não responderia. O relator, então, exibiu no telão uma imagem aproximada do calçado, identificando-o como um modelo da marca Hermès, avaliado em R$ 9,3 mil.
A recusa em responder, combinada com o valor elevado do item, desencadeou uma reação imediata dos parlamentares. O relator classificou a situação como “repugnante” e “nojenta”, argumentando que o uso de um acessório de luxo contrastaria com as acusações que pesam sobre o depoente — suspeito de envolvimento em esquemas que teriam prejudicado aposentados, pensionistas, pessoas com deficiência, pescadores e outros grupos em estado de extrema vulnerabilidade, justamente aqueles atendidos pelo INSS.
A partir desse ponto, a discussão evoluiu para denúncias mais amplas. O parlamentar afirmou haver possível ligação financeira entre a organização Amapá Brasil (Amabrasil) e uma alfaiataria de grife ligada a João Camargo, que teria recebido quase R$ 2 milhões da entidade. A mesma Amabrasil aparece nos autos como organização da qual Delecrode é secretário-executivo e responsável técnico, ampliando o alcance das suspeitas sobre contratos, movimentações financeiras e possíveis relações com o crime organizado.
A exibição do sapato, inicialmente tratada como um recurso retórico, acabou se tornando o símbolo central do embate político da sessão. O episódio expôs não apenas o desgaste do depoente, mas também o clima de tensão crescente dentro da CPMI, onde parlamentares pressionam por respostas e buscam evidências de supostos esquemas de desvio de recursos públicos.
O caso reforça a polarização da comissão e abre margem para novos desdobramentos sobre contratos, beneficiários e conexões entre entidades privadas e políticas de assistência social. O sapato de R$ 9,3 mil, agora amplamente difundido nas redes, tornou-se o ícone inesperado de um dos confrontos mais intensos já registrados na CPMI.




























