O plano de paz apresentado por Donald Trump para o conflito entre Israel e Hamas enfrenta obstáculos estruturais que ameaçam sua viabilidade. Embora o projeto tenha recebido apoio formal de líderes internacionais e de Israel, ele exige concessões políticas profundas que setores radicais em ambos os lados consideram inaceitáveis.

Para o Hamas, aceitar o plano implicaria em uma autolibertação: entregar todos os reféns já mantidos, desarmar suas forças, renunciar ao controle governamental de Gaza e permitir que a Autoridade Palestina — seu rival — assuma a administração do território.
Já do lado israelense, facções de ultradireita exigem a anexação de Gaza e partes da Cisjordânia, além de pressionarem por expulsões de palestinos — medidas vistas por analistas como formas de “limpeza étnica”. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já demonstrou reticência em avançar com negociações que reconheçam o Estado Palestino.
O plano, apresentado em 29 de setembro de 2025, propõe um cessar-fogo imediato, a retirada escalonada de tropas israelenses, desmilitarização de Gaza e criação de um governo de transição supervisionado internacionalmente. Israel manifestou apoio formal, porém com ressalvas: a retirada será gradual e condicional à libertação dos reféns em até 72 horas, e Gaza permaneceria sob perímetro de segurança israelense enquanto os demais termos forem implementados.
O apoio internacional foi imediato. União Europeia, países árabes e algumas nações ocidentais elogiaram o plano como “a melhor chance imediata” de promover paz. No entanto, mesmo o respaldo macro não garante sua execução duradoura — e é aí que reside o risco de sabotagem.
Pressão externa e limitação de espaço político
Para que o plano avance, será imprescindível que atores externos mantenham forte pressão. Na visão do plano, Estados europeus, países árabes e até o Irã deveriam convencer o Hamas de que esta pode ser sua última oportunidade de ver um Estado Palestino reconhecido. Da mesma forma, Trump precisaria condicionar o apoio a Israel — inclusive consideraria limitar o envio de armamentos — para forçar os radicais israelenses a cedimentos.
Porém, um problema estrutural persiste: será que essa pressão será mantida pelo tempo necessário? Mesmo países que apoiam o plano podem rever prioridades frente a crises internas ou reveses diplomáticos. Analistas avaliam bastante provável que os grupos radicais, hostis a concessões, trabalhem para minar o acordo antes que ele se consolide.
Cenários de sabotagem
- Obstruções internas: líderes israelenses de extrema-direita podem romper com Netanyahu ou promover movimentos de contestação ao plano. Já no lado palestino, líderes do Hamas podem adiar respostas ou incitar ações para rejeitar os termos como humilhação.
- Recuos estratégicos: Israel pode alegar que o cessar-fogo permite rearmamento de grupos palestinos, e assim reiniciar ofensivas.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/s/p/DHNv9KRDyPuRXRBAOJ8A/112487378-israeli-prime-minister-benjamin-netanyahu-speaks-during-the-general-debate-of-the-united-n.jpg)
- Fragilidade da governança transitória: a administração de Gaza por tecnocratas supervisionados por um mecanismo internacional poderá carecer de legitimidade no terreno, gerando resistência interna.
- Desgaste diplomático: se a comunidade internacional recuar ou dividir-se, o plano perderá sustentação política e financeira.
Embora a proposta de Trump represente uma tentativa ousada de resolver um conflito de décadas, ela repousa sobre premissas frágeis. Concessões exigidas dos dois lados tendem a gerar reações violentas dos grupos radicais. Sem forte e prolongada pressão internacional — e sem respaldo político contínuo — o plano corre sério risco de se tornar mais uma iniciativa fracassada no tabuleiro do Oriente Médio