O Nepal enfrenta uma crise sem precedentes em sua história recente. Na terça-feira, 9 de setembro de 2025, o primeiro-ministro K.P. Sharma Oli renunciou ao cargo após uma onda de protestos violentos que deixaram pelo menos 19 mortos e mais de 100 feridos.
Os confrontos começaram quando o governo, em uma tentativa de controlar o fluxo de informação, proibiu o acesso a redes sociais, medida que provocou revolta entre jovens, ativistas e cidadãos engajados na defesa da democracia.
Manifestantes desafiaram o toque de recolher imposto pelo governo e invadiram o Parlamento, incendiando o edifício principal. A violência se estendeu à Suprema Corte e a residências de ministros, incluindo ataques a áreas de segurança sensíveis.
A tragédia atingiu um nível brutal quando Rajyalaxmi Chitrakar, esposa do ex-primeiro-ministro Jhalanath Khanal, foi vítima de um ataque aterrador: cercada dentro de sua casa em Dallu, Catmandu, foi queimada viva após manifestantes incendiarem a residência — e acabou não resistindo aos ferimentos que sofreu durante o incêndio, mesmo tendo sido levada ao Hospital de Queimados de Kirtipur em estado crítico.


A renúncia de Oli, que estava em seu quarto mandato e enfrentava acusações de corrupção e repressão à liberdade de expressão, demonstra como políticas autoritárias podem rapidamente se tornar insustentáveis quando ignoram demandas sociais fundamentais.
O presidente Ramchandra Paudel aceitou a renúncia e iniciou discussões para a formação de um novo governo, enquanto o exército nepalês pediu moderação à população, e líderes políticos tentam negociar uma saída pacífica da crise.



A crise nepalense traz lições significativas sobre os riscos do autoritarismo, que pode evoluir para um ponto crítico, quando o descontentamento popular atinge níveis de ruptura institucional e violência generalizada. Governos que restringem liberdades individuais, como a liberdade de expressão e o acesso à informação, podem gerar erosão da confiança nas instituições, desencadear protestos massivos e, eventualmente podem evoluir para um ponto em que o descontentamento social atinge níveis insustentáveis e a estabilidade institucional entra em colapso.
Essa dinâmica é observável em outros contextos, como a Venezuela, onde governos autoritários consolidaram poder através de controle político, econômico e midiático, gerando crises humanitárias e instabilidade prolongada. No Brasil, embora o sistema democrático seja mais robusto, episódios recentes de polarização política e discursos que minam instituições podem, se não forem moderados, criar terreno fértil para tensões institucionais semelhantes, especialmente em períodos de crise econômica ou social.
Especialistas em ciência política enfatizam que a manutenção da democracia requer equilíbrio entre autoridade governamental e direitos civis. O Nepal exemplifica o ponto em que a centralização extrema do poder, combinada com políticas de repressão, pode levar a um colapso institucional súbito, colocando vidas humanas em risco e desestabilizando o país.
O futuro do Nepal depende da capacidade de seus líderes em restaurar a ordem, promover diálogo político e garantir que a voz popular seja ouvida de maneira construtiva. A tragédia política e social do país serve de alerta global: democracias frágeis podem sucumbir rapidamente ao autoritarismo, enquanto governos que negligenciam o bem-estar e a participação cidadã arriscam enfrentar crises semelhantes às que hoje assombram o Nepal.
A situação do Nepal é um alerta para outras nações latino-americanas em que a consolidação do poder autoritário resulta em colapso econômico, crises humanitárias e erosão da democracia, demonstrando os efeitos prolongados do autoritarismo no tecido social e político.