Em uma tentativa de aliviar tensão diplomática e comercial entre Brasil e Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou por cerca de 30 minutos, nesta segunda-feira (6), com o presidente norte-americano Donald Trump. O diálogo foi descrito pelo Palácio do Planalto como de “tom amistoso” e revisitou temas sensíveis da relação bilateral — especialmente tarifas punitivas e sanções aplicadas a autoridades brasileiras.
Os pedidos de Lula
Durante o telefonema, Lula solicitou a retirada da sobretaxa de 40 % imposta a produtos brasileiros — medida que, somada a outros tributos, pode elevar a alíquota sobre exportações brasileiras para os EUA a até 50 %. Ele também pediu o fim das medidas restritivas contra autoridades brasileiras, incluindo sanções consulares e financeiras, bem como revogação de restrições de vistos. Entre os nomes citados para reversão de sanções está o do ministro do STF Alexandre de Moraes, alvo de medidas sob a chamada Lei Magnitsky.
Na justificativa apresentada, o Brasil foi lembrado como um dos três países do G20 com os quais os EUA mantêm superávit na balança de bens e serviços — vínculo que, segundo Lula, reforça o argumento de que tais tarifas seriam injustificadas. Lula também qualificou o momento como uma “oportunidade para restaurar as relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”.
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Do lado americano, Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para conduzir as tratativas futuras com o governo brasileiro. Também ficou acertado que os dois presidentes tentariam um encontro presencial em breve. Lula sugeriu que isso ocorra na Cúpula da ASEAN, na Malásia, e reafirmou o convite para que Trump seja presença na COP30 em Belém (PA). Ele também se colocou à disposição para viajar aos Estados Unidos para esse fim.
Contexto da crise diplomática e comercial
A conversa diplomática ocorre em meio a um momento de acirramento nas tensões entre Brasília e Washington. Em julho de 2025, Trump impôs tarifas de até 50 % sobre produtos brasileiros, como desdobramento de uma sobretaxa inicial de 10 %. O governo Trump justificou as medidas como resposta a “práticas comerciais injustas” e vinculado à pressão sobre o julgamento de Jair Bolsonaro, a quem Trump considera aliado.
Em paralelo, os EUA aplicaram sanções a autoridades brasileiras, inclusive restringindo vistos e medidas consulares, com base em acusações de irregularidades no Brasil. Lula e auxiliares interpretam que as tarifas e sanções caminham lado a lado, e que o simples “desconto” sobre tarifas, isoladamente, não seria suficiente para reconstruir confiança diplomática.
Além disso, esse episódio se insere no contexto mais amplo da crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos em 2025, caracterizada por retaliações econômicas, acusações mútuas de interferência, e uso de instrumentos legais como a Lei da Reciprocidade. Em resposta ao tarifaço americano, o Brasil recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC) e manifestou interesse em aplicar contramedidas proporcionais.
Reações e desafios à frente
A repercussão no Brasil foi imediata. Para o governo Lula, o telefonema representa um aceno estratégico para restabelecer canais de diálogo, aliviar pressões econômicas e reafirmar a soberania nacional. Do lado americano, Trump divulgou em sua rede social que teve uma “ótima conversa” com Lula, centrada em economia e comércio, e afirmou que os países “fizeram muitos negócios” nesse contexto, além de reforçar que novos encontros presenciais estão nos planos.
Para especialistas diplomáticos e do comércio exterior, porém, o caminho será sinuoso. Suspender tarifas e sanções exige não apenas vontade política, mas tratativas complexas de compensação, mecanismos de monitoramento e garantias de reciprocidade. Há dúvidas também sobre se os EUA aceitarão relaxar sanções ligadas a autoridades brasileiras sem contrapartidas expressas.
Outro ponto crítico é o momento político e eleitoral que se aproxima no Brasil e nos EUA. Qualquer decisão de Trump sobre tarifas ou sanções poderá ser interpretada como concessão política, especialmente com as eleições de 2026 no horizonte. Nesse sentido, essa conversa é mais do que simbólica — pode ser peça inicial de uma nova fase de negociações entre as duas potências.




























