São Paulo enfrenta um grave episódio de intoxicação por metanol proveniente de bebidas adulteradas. Em poucas semanas, diversas mortes e casos suspeitos colocaram autoridades em alerta máximo. A Polícia Federal (PF), órgãos de saúde e vigilância sanitária se mobilizam para determinar a origem, conter novos casos e responsabilizar os envolvidos.
O que está acontecendo
- De acordo com reportagem do G1, a PF vai investigar suspeitas de que bebidas alcoólicas comercializadas em estabelecimentos de São Paulo foram contaminadas com metanol. Isso implica em investigação criminal e rastreamento da cadeia de distribuição.
- A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad/MJSP) notificou, por meio do Sistema de Alerta Rápido, nove casos de intoxicação por metanol registrados em SP em apenas 25 dias, todos decorrentes de ingestão de bebidas adulteradas.
- Pelo menos dois óbitos já foram confirmados: um morador da capital paulista, e outro em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
- Um terceiro óbito suspeito foi confirmado pela prefeitura de São Bernardo, elevando para três mortes em investigação em toda a Grande São Paulo.
- Em operação recente, 117 garrafas de bebidas sem procedência — sem rótulo e sem comprovação legal — foram apreendidas em bares e adegas nas regiões dos Jardins e da Mooca, na capital paulista. Essas garrafas serão analisadas em perícia técnica para confirmar presença de metanol.

O que é o metanol e como ele intoxica
- O metanol (álcool metílico) é uma substância tóxica usada em solventes, combustíveis e produtos industriais. Ao ser ingerido, é metabolizado no organismo em formaldeído e ácido fórmico — compostos altamente tóxicos que afetam o sistema nervoso, rins e olhos.
- Sintomas iniciais podem se confundir com os de intoxicação alcoólica: tontura, vômitos, dor abdominal, náusea, confusão. Os sintomas mais graves — visão embaçada, cegueira, convulsões, coma — costumam aparecer entre 12 e 48 horas após a ingestão.
- A cegueira causada por metanol pode ser permanente, pois o nervo óptico sofre lesão irreversível em muitos casos.
- O tratamento exige diagnóstico rápido e uso de antídotos como fomepizol ou etanol, além de hemodiálise em casos graves. Quanto mais cedo o atendimento, maior a chance de sobrevivência ou menor gravidade.
Vítimas e relatos
- Um jovem de 23 anos, chamado Diego Marques, relatou que ficou cego temporariamente após consumir uma bebida comprada em adega. Ele conta que a garrafa estava lacrada e remetia a uma marca famosa, o que torna tudo ainda mais alarmante.
- Ele passou três dias internado e foi constatada presença de metanol em seu sangue. Outros amigos que também consumiram a mesma bebida foram internados — um deles está em estado gravíssimo, sem atividade cerebral detectável.
- Outras vítimas também relataram perda de visão temporária ou sintomas neurológicos importantes após ingerir bebidas em ambientes sociais.

Polêmica e possível elo com crime organizado
- A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) levantou hipótese de que o metanol usado para adulterar bebidas pode ter origem no mesmo produto usado para adulterar combustíveis, com vínculo ao PCC (Primeiro Comando da Capital). Segundo essa tese, o metanol que era ilegalmente usado em combustíveis poderia ter sido redirecionado para a produção de bebidas clandestinas.
- O esquema de importação ilegal de metanol foi investigado recentemente, e suspeita-se que alguns grupos criminosos tenham inserido esse produto no mercado clandestino, não só em postos de combustíveis, mas também em fábricas clandestinas de bebidas.

O que as autoridades estão fazendo
- A PF (Polícia Federal) já foi acionada para atuar na investigação criminal da adulteração, rastreando rotas de distribuição e responsabilizando fornecedores, distribuidores e comerciantes infratores.
- Secretarias de Saúde, Vigilância Sanitária municipal e estadual e centros toxicológicos (como o Ciatox, de Campinas) estão colaborando com notificações, coleta de amostras e protocolo de monitoramento.
- O Governo Federal divulgou nota oficial informando que os nove casos notificados ao Sistema de Alerta Rápido (SAR) são considerados “fora do padrão”, exigindo atenção urgente.
- Licitações de fiscalização foram intensificadas: 43 mil ações em bares, restaurantes, distribuidoras e estabelecimentos de venda de bebidas foram registradas em setembro em todo o estado de SP.
- Órgãos de saúde recomendaram que estabelecimentos interrompam venda de lotes suspeitos e mantenham produtos apreendidos para perícia. Consumidores com sintomas devem buscar atendimento imediato e notificar autoridades.
Alerta Nacional com reflexos para Goiás
Esse episódio em São Paulo mostra que adulteração com metanol não é “caso isolado” nem regional – pode ser padrão que se espalhe para outros estados, inclusive Goiás. O estado precisa estar vigilante: fiscalizações, atuação integrada entre vigilâncias municipais e estaduais, e campanhas de conscientização urgente para alertar população e bares locais.
Para Goiás:
- Os estabelecimentos e bares devem redobrar cautela — exigir notas fiscais, certificação, lacres intactos e evitar compras de origem duvidosa.
- A vigilância sanitária deve planejar operação centrada em regiões com vendas aquecidas de bebidas artesanais, festas e locais noturnos.
- Consumidores devem estar atentos a sinais de intoxicação (visão borrada, dor de cabeça intensa, náuseas) e buscar atendimento imediato.
- Em caso de suspeita, guardar embalagens, rótulos, recipientes e acionar vigilância local e polícia.