Por anos, a região retratada nas imagens foi sinônimo de abandono, insegurança e sofrimento. Moradores que viviam no entorno relatam que a Cracolândia funcionava literalmente “na porta de casa”.
Quem morava nos andares mais baixos não podia sequer abrir a janela, temendo o fluxo constante de usuários e a violência cotidiana. Entregas eram roubadas com frequência, vidros de carros eram estourados e comerciantes precisavam abrir seus estabelecimentos em meio a urina, fezes e um odor insuportável — fatores que afastavam clientes e paralisavam a economia local.
Segundo o governo estadual, o cenário começou a mudar após uma ação integrada envolvendo segurança pública, inteligência policial e políticas sociais. A gestão destaca que o processo não foi “mágica”, mas resultado do enfrentamento direto ao crime organizado, da asfixia financeira das redes de tráfico e do entendimento de como operava a estrutura criminosa que dominava a região, especialmente a partir da Favela do Moinho, considerada por anos um dos centros logísticos do crime.
O eixo social, porém, foi apontado como fundamental para a mudança. Dependentes químicos antes submetidos à exploração de traficantes passaram a receber atendimento contínuo em saúde e assistência social. O acolhimento psicossocial se tornou peça-chave no resgate de autoestima, autonomia e reconstrução de vínculos familiares. Um dos atendidos relatou que jamais havia recebido tanta atenção quanto no novo modelo de cuidado: após ser inserido no acompanhamento clínico e psicossocial, conseguiu retomar os estudos, o trabalho e a própria vida, por meio do programa RANCO.
No total, o governo afirma ter implantado 44 casas terapêuticas e criado espaços dedicados também ao suporte familiar, ampliando o alcance da recuperação. Comerciantes e moradores relatam que os efeitos já são visíveis: o direito de ir e vir foi restabelecido, o ambiente tornou-se mais seguro e a estigmatização antes imposta aos residentes da área começou a desaparecer.O plano de requalificação urbana agora avança para a próxima fase.
Entre as propostas anunciadas estão a transformação da área em uma grande praça pública, a conversão de prédios abandonados em unidades habitacionais da CDHU, a criação do Parque do Moinho, a implantação da Estação Bom Retiro e a instalação do novo Centro Administrativo do Governo do Estado de São Paulo no local.
Segundo o governador Tarcísio de Freitas, São Paulo está “na direção certa”, e a combinação de políticas públicas coordenadas tornou possível o que muitos acreditavam ser inalcançável: “A Cracolândia acabou.”




























