A cidade de Nerópolis vive uma crise de saúde e cidadania que revela não apenas falhas administrativas, mas também uma preocupante falta de empatia do poder público. O prefeito municipal decidiu interromper os repasses financeiros ao Instituto Therapies Love Kids, referência há mais de uma década no atendimento a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), e rescindir unilateralmente o contrato, sem justificativa, sem processo administrativo, sem notificação prévia e sem abertura para defesa da instituição.
O impacto dessa decisão é imediato e grave: dezenas de crianças ficaram sem acompanhamento essencial, enquanto profissionais especializados perderam seus empregos devido à interrupção dos pagamentos que já estavam atrasados há 75 dias. A clínica, no esforço de garantir a continuidade do tratamento, ampliou voluntariamente o número de sessões semanais de três para cinco, sem cobrar nada a mais, operando inclusive no prejuízo. Essa atitude evidencia o comprometimento da instituição com o desenvolvimento e o bem-estar das crianças, mesmo diante do descaso do poder público.
O CEO da Therapies Love Kids em Anápolis, Glauco Costa, criticou de forma contundente a postura da Prefeitura:
“É impressionante como a Prefeitura de Nerópolis continua agindo de forma obscura e autoritária, utilizando as redes sociais apenas para expor suas próprias falhas e condutas inadequadas. Desde o início, sempre me coloquei à disposição para dialogar e esclarecer qualquer questão. No entanto, nunca fui recebido, nunca houve interesse em ouvir o outro lado. Expor informações distorcidas e inverdades reforça a percepção de que esta administração não atua com seriedade e transparência.”
A declaração de Glauco ressalta o abismo entre a retórica oficial e a realidade prática. O que a Prefeitura chamou de irregularidades pode, na visão da instituição e de especialistas em gestão de saúde infantil, configurar interpretações subjetivas, usadas para justificar a ruptura do contrato sem diálogo.
Além disso, a decisão da gestão municipal expõe um problema moral: como um governo pode desconsiderar crianças que dependem de cuidados constantes, estímulos e acompanhamento multiprofissional, em nome de formalidades administrativas ou disputas políticas? A medida deixou famílias vulneráveis sem atendimento, um verdadeiro golpe contra o direito à saúde e à proteção prioritária da criança, previstos nos artigos 196 e 227 da Constituição Federal.
Enquanto a disputa judicial e administrativa se desenrola, o que não pode esperar é o direito das crianças de evoluir, aprender e se desenvolver. O Instituto já anunciou que recorrerá ao Ministério Público, ao Tribunal de Contas e às vias judiciais, buscando garantir que nenhuma criança seja prejudicada pela negligência do poder público.
O episódio também levanta uma reflexão sobre a gestão de recursos públicos: a grandeza de um governo se mede pela forma como trata os mais vulneráveis. E neste teste, a Prefeitura de Nerópolis demonstrou descaso, autoritarismo e falta de compromisso social, optando por quebrar contratos e impor sofrimento a famílias inteiras, em vez de buscar soluções colaborativas e transparentes.
A pergunta que fica ecoando na cidade é perturbadora e essencial: até que ponto pode chegar a indiferença do ser humano, quando decisões administrativas se transformam em crueldade contra crianças que apenas necessitam de cuidado, estímulo e amor?
Nerópolis agora enfrenta não apenas uma crise de gestão, mas um choque ético e moral, e a esperança de pais e profissionais está na resistência da Therapies Love Kids e na busca por justiça, lembrando que a proteção infantil não pode ser ignorada em nome de burocracia ou interesses políticos.




























