A relação entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), vive seu momento mais delicado desde que ambos chegaram ao comando das Casas Legislativas. O pivô da crise foi o arquivamento da chamada PEC da Blindagem, proposta que acabou sepultada no Senado e gerou profundo incômodo em Motta.
Segundo aliados próximos, o presidente da Câmara não apenas discorda do desfecho, mas também da forma como o processo foi conduzido. A “liturgia de enterro” da proposta — como tem sido descrita nos bastidores — teria deixado a Câmara exposta a críticas públicas e reforçado a percepção de fragilidade política.
Esse episódio marca o primeiro grande estranhamento entre os dois líderes, que até então caminhavam em sintonia na condução das agendas do Congresso. A tensão é vista como um sinal de que a aliança pode estar se esgarçando justamente em um momento de disputas estratégicas por influência e protagonismo entre Senado e Câmara.
Analistas avaliam que Motta coleciona uma sequência de erros políticos recentes, e a derrota da PEC é apenas o mais simbólico deles. Sua imagem, já abalada, sai ainda mais desgastada do episódio. Ainda assim, persiste entre observadores a máxima atribuída a Eduardo Cunha, um dos mentores políticos do paraibano: “em política, fundo de poço tem mola”. Ou seja, mesmo fragilizado, Motta pode buscar meios de se reerguer.
No entanto, para muitos interlocutores, o enfraquecimento atual decorre menos da ação de adversários e mais da própria condução equivocada do presidente da Câmara. Essa percepção alimenta dúvidas sobre sua capacidade de recompor forças a curto prazo.
O rompimento com Alcolumbre, ainda que não declarado oficialmente, abre espaço para novas movimentações nos bastidores de Brasília. O episódio pode redesenhar a correlação de forças entre Câmara e Senado, num cenário em que cada gesto e cada articulação passam a ter peso redobrado no xadrez político nacional.
