O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se prepara para um encontro com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no qual pretende tratar não apenas de comércio e cooperação entre os dois países, mas também de um tema sensível: os atos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Lula já declarou que quer “informar Trump” sobre como se deu a suposta tentativa de golpe no Brasil, destacando que não se tratou de um simples ato de vandalismo, mas de uma suposta articulação que envolveu ameaças a autoridades, discussões sobre intervenção na Justiça Eleitoral e risco direto à democracia brasileira.
A comparação com o ataque ao Capitólio, em 2021, é uma narrativa recorrente de Lula, que busca enquadrar o episódio brasileiro como parte de um fenômeno global de ameaça às instituições democráticas. Em diversas ocasiões, ele responsabilizou redes sociais e grupos organizados pela propagação de discursos golpistas.
Apesar disso, críticos apontam que Lula tem explorado politicamente os eventos de janeiro. Para a oposição, atos oficiais promovidos pelo governo para lembrar a data funcionam mais como palanques partidários do que como iniciativas de fortalecimento institucional. Parlamentares de oposição acusaram o presidente de se apoiar em “memórias seletivas” para manter a narrativa do suposto episodio viva e mobilizar sua base de apoio, em vez de priorizar soluções concretas para os problemas do país.
A tentativa de convencer Trump também levanta questionamentos práticos. O próprio Lula, em declarações anteriores, disse não ver espaço para negociações diretas com o republicano sobre outros temas, como tarifas comerciais, chegando a afirmar que não faria “humilhação” de telefonar a ele. Essa contradição expõe o risco de a iniciativa ser percebida mais como um gesto retórico do que como um esforço diplomático com resultados concretos.
Outro ponto de crítica é a escolha de pautar Trump com esse assunto em um momento em que os dois países têm temas urgentes de interesse mútuo — como comércio, tarifas e investimentos. Para opositores, insistir em colocar o 8 de janeiro como prioridade internacional soa como uma tentativa de desviar o foco de problemas internos, como inflação, desemprego e crise fiscal, que exigem soluções imediatas do governo.
Em resumo, Lula pretende transformar o encontro em oportunidade para reforçar sua narrativa sobre defesa da democracia. No entanto, a insistência em relembrar o 8 de janeiro, especialmente diante de líderes internacionais, reforça críticas de que o presidente instrumentaliza o episódio para ganhos políticos, enquanto o país enfrenta desafios concretos que ainda aguardam respostas.