À medida que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva avança, surgem sinais alarmantes de que a situação financeira das estatais federais ultrapassou níveis toleráveis — não apenas por causa de investimentos previstos, mas por falhas estruturais que comprometem gravemente as contas públicas.
Segundo levantamento, no acumulado dos 12 meses até julho de 2025, as empresas controladas pela União registraram déficit de R$ 8,83 bilhões — montante 31% superior ao prejuízo de R$ 6,73 bilhões contabilizado em 2024. É o pior resultado desde 2002, início da série histórica do Banco Central. O rombo significativo inclui, porém, as estatais excluídas da estatística oficial: Petrobras (pela governança e autonomia para captar recursos no Brasil e no exterior) e Eletrobras (já privatizada em 2022).
O governo defendia que os déficits (e o acúmulo de prejuízos) se deviam a investimentos feitos no passado, que dariam retorno em longo prazo. A ministra de Gestão e Inovação, Esther Dweck, por exemplo, afirmou que aportes da União feitos em gestões anteriores permitiram a execução de projetos estratégicos que hoje demandam novos recursos, embora nem todos os efeitos possam ser considerados prejuízo.
Analistas, no entanto, veem problemas mais profundos. João Pedro Paes Leme, economista da consultoria Tendências, afirma que “os investimentos podem ter contribuído para o registro inicial de déficit, mas o que se vê agora são fatores estruturais relacionados à máquina dessas empresas”. Entre esses fatores estariam a incapacidade de competir no mercado e obrigações como o não pagamento da Previdência.
Murilo Viana, especialista em contas públicas, destaca o aparelhamento político e o uso de estatais como instrumentos para alocação de recursos parlamentares, como emendas. Ele aponta que embora haja crescimento nos investimentos, há “má qualidade” desses investimentos e execução precária.
Um dos casos mais emblemáticos da crise financeira das estatais federais é o dos Correios. No primeiro semestre de 2025, o prejuízo da empresa atingiu R$ 4,37 bilhões — mais que o triplo do mesmo período em 2024, quando o déficit foi de R$ 1,35 bilhão. Apenas no segundo trimestre, o buraco financeiro foi de R$ 2,64 bilhões, contra R$ 553,2 milhões do ano anterior.
Além da queda na demanda pelos serviços postais tradicionais, pesa sobre os Correios o impacto de decisões regulatórias e judiciais, como pagamento de sentenças e o déficit do Postalis (o fundo de pensão da empresa). Também a mudança regulatória do comércio eletrônico — especialmente o programa Remessa Conforme — afetou seu fluxo de receitas.
Outro ponto alto da crítica é a transparência deficitária. O boletim trimestral de empresas estatais federais, antes divulgado até o final de 2022, deixou de existir com a administração Lula. Desde então, há menos dados regulares que permitam identificar de forma clara quais estatais são mais problemáticas, onde estão os déficits e qual sua composição.
A deterioração das finanças das estatais federais pode gerar riscos significativos. Se os déficits exigirem aportes do Tesouro para se manterem, isso poderá agravar ainda mais o já delicado panorama fiscal do país.
Há também pressão crescente por privatizações ou reestruturações profundas — especialmente nos casos em que o papel social da empresa é pouco claro ou seu custo de operação muito elevado diante do retorno trazido. Analistas opinam que decisões sobre quais estatais devem permanecer sob controle público precisam vir acompanhadas de debates transparentes e criteriosos, com participação da sociedade.