Na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em 26 de setembro de 2025, a delegação brasileira protagonizou um gesto sem precedentes: retirou-se do plenário antes do início do discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. A ação foi uma manifestação diplomática em resposta à intensificação do conflito no Oriente Médio e, também, à morte de dois adolescentes brasileiros em bombardeios no Líbano. Segundo o Itamaraty, a decisão foi motivada pela gravidade da crise humanitária em Gaza e pelos ataques recentes do exército israelense contra o Hezbollah no território libanês.
A saída da delegação brasileira foi cuidadosamente planejada. Os representantes do país deixaram o plenário após o discurso do primeiro-ministro do Paquistão, retornando apenas depois da fala do primeiro-ministro de Barbados. Este gesto diplomático quebrou uma tradição histórica: pela primeira vez, o Brasil se ausentou de uma sessão da Assembleia Geral antes da fala de um chefe de Estado ou de governo, demonstrando um posicionamento claro diante das ações de Israel.
No plenário, Netanyahu utilizou seu discurso para justificar as ações militares de Israel, descrevendo-as como uma “batalha pela vida” contra inimigos que, segundo ele, buscam a aniquilação do país. O premiê também emitiu um alerta direto ao Irã, indicando que qualquer ataque contra Israel receberia uma resposta militar imediata. O discurso foi marcado por um tom firme, buscando legitimar a atuação israelense no contexto da escalada do conflito na região.
O gesto brasileiro gerou reações mistas no cenário internacional. Alguns países e observadores diplomáticos apoiaram a postura de protesto, interpretando a saída como um sinal de firmeza do Brasil em defesa de civis e da paz. Outros, porém, questionaram a eficácia do ato, argumentando que a ausência do país do plenário limitou a capacidade da delegação de ouvir diretamente os argumentos de Netanyahu e participar de debates diplomáticos em tempo real. Essa crítica sugere que, embora simbólico, o boicote possa reduzir a influência do Brasil em negociações multilaterais e discussões futuras sobre a crise no Oriente Médio.
A ação também provocou intenso debate interno sobre a política externa brasileira. Analistas apontam que o gesto reafirma a preocupação do país com a proteção de cidadãos brasileiros no exterior, mas alerta para o desafio de equilibrar manifestações de protesto com o engajamento diplomático contínuo, especialmente em fóruns multilaterais como a ONU, onde a presença ativa é fundamental para influenciar decisões e construir alianças estratégicas.
No entanto, o gesto brasileiro foi mais simbólico do que estratégico, expondo o país ao ridículo no cenário internacional. Ao se retirar do plenário, o Brasil abriu mão de ouvir diretamente os argumentos de Netanyahu, perdendo a oportunidade de exercer influência diplomática concreta e reduzir tensões. Especialistas apontam que o ato pode ser interpretado como uma tentativa populista de autopromoção, sacrificando anos de tradição diplomática e prejudicando a credibilidade do país em fóruns multilaterais. Em vez de fortalecer a imagem do Brasil como mediador responsável, a decisão reforça a percepção de que o país age por impulso político, sem planejamento estratégico, tornando-se um observador passivo em vez de protagonista nos debates internacionais.