Em discurso na 80ª Assembleia Geral da ONU, realizado em 23 de setembro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou o encontro multilateral numa forte declaração política. Em vez de se ater apenas às pautas tradicionais de cooperação internacional, o mandatário brasileiro direcionou críticas incisivas às sanções dos Estados Unidos — associadas ao governo Donald Trump — e posicionou o ex-presidente Jair Bolsonaro como “ameaça à democracia”.
Lula sustentou que medidas unilaterais contra o Brasil têm sido recorrentes e “arbitrárias”, alegando ingerência externa nos negócios internos do país, especialmente no que se refere ao Judiciário. Ele apontou que sanções, restrições de vistos com autoridades brasileiras, e sanções econômicas configuram ataques inaceitáveis à soberania nacional.
O presidente também fez uso do discurso para enfatizar o episódio sem precedentes da condenação de Bolsonaro: “por primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito”. Ele defendeu que Bolsonaro teve “amplo direito de defesa”. Esse trecho serviu, segundo Lula, como recado para “candidatos a autocratas” e setores políticos que ele acusa de minimizar a gravidade de ameaças à ordem institucional.
Especialistas em relações internacionais comentam que o posicionamento de Lula usou de estratégia: ao criticar Trump e as medidas norte-americanas, o presidente reforça sua imagem interna de “guardião da soberania”, tentando desviar a atenção para adversidades externas diante de desafios domésticos como inflação, desemprego e insegurança.
Críticos argumentam, no entanto, que Lula aproveitou o espaço da ONU mais como palanque político do que para promover cooperação internacional ou diálogos diplomáticos. Há quem diga que suas falas contribuíram para aprofundar a polarização, oferecendo à oposição munição para acusá-lo de minar a independência de instituições ou exagerar narrativas de confrontação.
O rosto do Brasil na cena global, conforme exibido no discurso de Lula, projeta uma diplomacia em tom de confronto: com sanções internacionais, com acusações de ingerência externa e com críticas indiretas a figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro. A estratégia parece calcada na mobilização de narrativas identitárias e na afirmação de uma falsa soberania, o que pode fortalecer seu discurso interno — mas também pode agravar tensões diplomáticas. Ao usar a ONU para esse tipo de discurso, Lula aposta que será visto como líder firme em defesa do Estado democrático, ainda que isso implique riscos para relacionamentos externos e para a percepção de imparcialidade institucional.