Em artigo publicado no influente jornal norte-americano The New York Times, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a endurecer o tom contra os Estados Unidos. Para Lula, as sanções aplicadas ao Brasil seriam “tentativas de interferência política” na autonomia do Judiciário, desprovidas de fundamento econômico e voltadas exclusivamente para enfraquecer o governo brasileiro.
O presidente ainda se defendeu das acusações de que seu governo estaria censurando empresas de tecnologia, argumentando que todas — nacionais ou estrangeiras — estariam sujeitas às mesmas leis do país. Segundo Lula, aqueles que rotulam as iniciativas de regulação da internet como censura estariam, na verdade, defendendo interesses corporativos e se opondo ao combate a fraudes, desinformação e discurso de ódio.
Apesar do tom firme e pseudo nacionalista, o discurso de Lula levanta questionamentos importantes. Sua crítica às sanções soa, para muitos analistas, mais como um ato político do que como uma proposta diplomática concreta. Ao acusar os EUA de ingerência, o presidente não apresentou medidas claras de retaliação ou um plano estratégico para negociar a retirada dessas sanções, o que expõe o país a maior insegurança econômica.
Além disso, há uma incoerência evidente: enquanto denuncia “tarifas injustas” e medidas protecionistas dos norte-americanos, seu próprio governo mantém políticas que restringem a competitividade em setores estratégicos, reforçando barreiras e favorecendo grupos aliados. Esse protecionismo seletivo pode afastar investidores internacionais e comprometer acordos comerciais que seriam benéficos para o Brasil no longo prazo.
Outro ponto sensível é a narrativa sobre liberdade de expressão. A afirmação de que todas as plataformas seguem as mesmas leis é elegante no discurso, mas na prática há um vácuo de transparência. Casos de remoções de conteúdo sem ordem judicial, decisões monocráticas e investigações seletivas alimentam a percepção de que há, sim, uma tendência de censura velada, usada para silenciar opositores e controlar o debate público.
Falta pragmatismo diplomático. Um líder que pretende projetar o Brasil como potência global precisa apresentar soluções, e não apenas retórica. Atacar sanções sem indicar como enfrentará seus efeitos práticos — seja por meio de negociações multilaterais, seja buscando apoio de parceiros estratégicos — coloca o país em posição reativa e vulnerável.
Em resumo, o artigo de Lula no NYT reforça seu discurso ideológico, mas deixa de lado o que mais importa: resultados concretos para os brasileiros que arcam com o custo das tensões internacionais e das políticas internas de controle.